estou sozinha. Mas em Paz...

Não te tenhas em tão grande conta se só te consegues erguer quando em cima das costas de outros.
Não penses que és forte porque me consegues atirar ao chão.
Não acredites que és mais que eu apenas porque assim te vês...

Não penses...
Porque espelhamos nos outros o que somos e tu em mim espelhas o teu lado mais negro e maléfico.
Vês-me como o teu maior inimigo e apenas porque a tua alma, consumida pela sistemática vontade de ser alguem, quando olha para mim sente-se pequeno e imutavel.
Tu querias... querias ver o Mundo como eu e estar de bem com ele.
Querias ser forte sem ter que ser ao rebaixares os outros.

Mata-me que nem assim me conseguirás ultrapassar.
Estou em mim, dentro de um casulo de cristal, e sei quem sou.
Não preciso que ninguem esteja debaixo de mim para poder ser grande.
De pequena estatura mas de grande envergadura, cérebro em paz, o Universo aos meus pés.
Querias... querias sentir-te parte de um todo e por isso te juntas aos pares.
És ridiculo.
És o Homem que se acha demais quando apenas está... a mais.
A vida leva-nos a ser sanguessugas daqueles que percebem que a passagem por este plano é fugaz e por isso tentam apenas ser felizes.
E tu... pobre de ti... crês que és o Professor da vida quando aquilo que sabes sobre ela é apenas o que achas que é verdadeiro.
Verdadeiro Mestre é aquele que sabe que apenas em Paz pode prosperar.
Aquele que sabe que a agressão, a maldade apenas levam ao teu próprio fim.
E é por isso que me puxas, me empurras na direcção do fundo apenas para que te sintas mais acima.

Acredita...
Mata-me e nem assim serás mais que eu.
A tua pequenez não está no tamanho mas nas acções que quem as tem, pensando que é Verdadeiro, apenas as faz para se sentir.
Pobre... Pobre de ti que não te sentes e apenas através da dor dos outros consegues somar-te.
Mas, nem assim... nem assim consegues existir.
E é assim por isso que tentas pular pelos outros, menospreza-los com a ideia de que serás mais visto, despreza-los com a ideia de que daí obterás grandes lucros e serás visto como algo especial.
Tens, terias algo em especial em ti se fosses capaz de lutar contra esse lado desumano que tens.
Poderias ser especial se apenas lutasses as tuas batalhas.
As que estão dentro de ti.
Mas... coitadinho de ti...
Achas que atirando aos outros essa tua inexistência, essa tua incapacidade de lidares com quem és, sobreviverás.
Eu sou Luz e guio-me pelo coração.
Já tu...
És o erro que o Universo me mostra para que eu consiga sempre, sempre fugir dele.
É dor ser diferente mas é alegria incessante ver que não me perdi que mesmo depois de todas as provações eu continuo do lado dos vivos, dos que querem passar por esta vida criando Amor.
É rejubilo festivo saber que me doi.
Que sinto.
Que vejo, que respiro o mesmo ar que tu mas que o meu é expelido em paz e o teu...
Pobre... pobre da tua alma que asfixia dentro de ti, pobre do teu coração que está despedaçado dentro do teu peito e que, pobre, pobre... queria tanto ser feliz.

Serias... serias tanto quanto eu se apenas fosses capaz de perceber algo que não aquilo que queres ver.
Serias... serias alma e luz se te abrisses aos céus e pedisses para que dentro de ti fossem retirados todos esses ódios...
Mata-me e nem mesmo assim conseguirás ir alem.
Tira-me as palavras, falarei com o coração.
Tira-me a minha imagem, viverei para sempre dentro daqueles que, como eu, vivem para que dentro de nós brilhe a chama que não se apaga, a chama da Vida.
Desapareço de ti mas, mesmo assim, continuas a sentir-me...
Para-me, arranca-me os membros, não poderei andar.
Cala-me, arranca-me o cérebro, não poderei pensar.
Mata-me, tira-me deste plano, não existirei... cá fora.
Porque no Universo a minha alma é eterna e a minha Luz sempre te cegará.
Parte-me em mil pedaços e eles entrarão por ti adentro e irão ferir-te como a verdade.
Eu sou.
Existo dentro e fora de mim.
Continuarei sempre a existir e tu...
Pobre, pobre de ti... um dia, ao compreenderes que não és mais que um ponto de nada.
Ao olhares para dentro de ti e veres o vazio, onde te perdes, todos os dias, a toda a hora e onde só te consegues encontrar ao puxar ao abismo outros que como eu, apenas querem ser felizes.

14-novembro-2008
a todos os que, como eu, não se deixam afectar

o Tempo em que as coisas ditas são exactamente as sentidas

as coisas são simples, nós é que as complicamos.
o dia começa com o Sol a subir no horizonte (se bem que nem sempre o vemos) e acaba com ele a por-se...
pelo menos aqui...
porque lá longe começa e acaba de maneira totalmente diferente.
tudo depende da maneira como olhas para as coisas...
eu costumo ver tudo distorcido.
deve ser da vista cansada...

Quero esconder-me do Mundo e ter a certeza que ninguem me vê nem eu vejo ninguem.
É engraçado... temos tantas certezas que nunca são.
Somo quem queremos ser achando que o somos e afinal apenas existimos sendo o que os outros nos vêem.
É injusto... por mais que saibamos que não é assim que estamos, o que os outros vêem de nós é sempre aquilo que acabamos por ser.
Há quem se pinte bonito, inteligente, outros que se pintam como fortes e impenetráveis e nós que estamos de fora acreditamos.
Outros mascaram-se de fracos, oprimidos, e nós assim os vemos.
Mas, dentro de cada um deles não há nada.
Como dentro de mim.
Sou cheia de vida, movo-me a velocidades estonteantes e encho os meus pulmões de ar enquanto vou fugindo de tudo porque eu sei que ninguem me vê como sou.
Até eu.

E assim o Sol se ergue por entre as nuvens preguiçosas que se estendem e o Sol se esconde como eu, do Mundo e dos outros que o vêem achando que sabem quem ele é.
Enquanto ele desce e dá lugar à Lua eles devem conversar.
Até eles têm com quem conversar.
Apenas partilhar palavras sem que elas tenham ou ditem qualquer sentido.
Sem que essas palavras sejam medidas.
Nem sentidas...
São só palavras. As coisas medem-se pela reacção que geram e estas palavras apenas geram som.
Um som silencioso com que elas vão sendo gritadas.
Tal como eu que grito dentro de mim, baixinho, para que ninguem me ouça nem pese o que digo.
O que sinto é inatingivel por palavras e só eu, dentro de mim, quando o Sol se põe e a Lua dentro de mim aparece, consigo perceber o que exactamente elas dizem.
Palavras largadas, pesadas, leves que voam que caem que se deitam e se erguem entre várias outras e que amordaçam a minha boca sabendo que não devem ser largadas ao Mundo.
Estão sozinhas, sabes, as palavras.
Estão calmamente sentadas à beira de um precipicio e baloçam as pernas sentido debaixo delas o abismo que é ser.
Olham para baixo e vêem outras que cairam que deixamos cair e que se esqueceram...
Outras ainda pairam à altura dos nossos olhos e, quase acreditamos que ainda as podemos agarrar...
Estico-me... um bocadinho mais... um bocadinho mais...
E elas caem.
Estico-me... falta só um bocadinho....
E eu caio com elas.
Porque as que vi sentadas calmamente à beira da queda eram já elas o próprio salto que devemos dar de umas para as outras sempre com o cuidado de quem passa um rio cheio de animais raivosos, em ânsias de te agarrarem e te levarem com eles abaixo da linha da água onde o silêncio é Rei.
E onde quero ir.
Porque dentro do silêncio as palavras são soltas e o Sol volta a erguer-se devagar com a calma de quem tem o resto do tempo.
Tempo que não existe para ele, apenas para nós.

o Tempo em que as coisas ditas são exactamente as sentidas.

12-Novembro-2008

Antoine de St-Exupéry

“Terei de suportar duas ou três lagartas, se quiser saber como são as borboletas.”

Antoine de St-Exupéry

“… o Principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo começou a desconfiar dela. Tomou a sério palavras sem importância e sentiu-se muito infeliz.”

a mosca

«não me posso permitir colocar novamente na mesma situação. não gosto de me sentir enjeitada e se continuar a insitir sei que será o óbvio.
se te disesse tudo o que penso ficarias com a ideia de que eu não sei o que penso o que não deixa de ter a sua verdade.
se parte de mim quer ir e estar contigo a outra diz-me que tenho que me proteger.
tal como fazes quando te proteges de mim e foges.
a diferença é que eu não fujo... apenas sou enxotada.»

2-novembro-2008

avisto... desarmada

O meu erro é querer demais...
É achar que chega quando não existe e que está óptimo quando desaba...
Às vezes vemos as coisas da maneira que elas são e outras, de frente...
É sempre uma diferente perspectiva, o ver de frente.
É a mesma, mesma coisa, mas por estar de frente parece apenas ter uma dimensão e muitas vezes, toldados por aquilo que achamos ser multidimensional, não as vemos como elas são. Simples.

Se tudo fosse como queremos...
O dia azul e brilhante, mesmo que frio, ainda assim delicioso...
O mar limpido cristal onde o céu se espelha e onde as estrelas piscam como uma porta para essa outra dimensão.
Onde tudo é exactamente como queremos...
Onde as coisas são simples e onde amar é querer.
Onde as ondas são altas em mar e calmas na costa...
Onde o vento sopra com tal força que se erguem no ar as imagens que fazemos dentro das nossas cabeças, onde essas lindas e leves imagens não se esmagam contra o chão e onde tudo é sempre exactamente como queremos...

Esgota-me pensar que do ribombar dos trovões saem raios como de dentro de mim...
Vejo as coisas de frente e afinal são as mesmas, despudoradas da minha infantilidade e dos traços de arco-íris que finjo pousar sobre tudo...
A noite, a Lua, as estrelas, o vento que sopra e evapora as pequenas particulas de fingimento que voam e se erguem nos ares a kilometros de distância de nós...
As coisas voam, sabes?
Tudo voa...
Dentro de nós voa o passado, e o futuro, pesa o presente ao mesmo tempo que flutua...
As coisas mais importantes são as do agora porque são as que temos mas as coisas que ansiamos são as que passámos, e que pesam hoje como uma lembrança do amanhã que não chega porque já foi, porque... voou...
Deixamo-las voar, sabes??
Deixamo-las ir porque não sabiamos como as pesar e porque esperavamos ansiosamente que as coisas, multidimensionais como as vemos, fossem iguais...
As coisas nunca são iguais...
As coisas são seres mutáveis dentro de nós. Cada um ve-as como quando olho para o limpido mar cristal... de uma outra dimensão. Que é a sua... que é que está dentro de nós e que nos faz ser o ‘eu’...

Pensar que voltamos. Sempre. Atrás...

Extasia-me acreditar que as coisas são e têem a importância que lhes damos.
Aniquila-me pensar que faço dos meus pensamentos coisas e que elas tomam o seu corpo com as várias visões que dela vejo.
O meu cérebro não vê.
Os meus olhos não conseguem compreender...
E apenas porque é... assim.
-as coisas não são as que vemos mas aquelas que os nossos olhos espelham no céu de cada um dos nossos mares.
E esses?
Os mares??
Quem são?...
-as histórias do nosso passado, os sonhos dos nossos presentes e o momento que cada um de nós vive dentro de si.
Dou respostas às minhas próprias perguntas e sei que não passam de imagens reflectidas do meu ‘eu’.
Queria às vezes deixar de poder ser quem sou e depois voltar a mim.
Queria sentir o vento que ergue acima do céu as imagens e evapora as pequenas particulas de fingimento.
E ser leve outra vez.
Sem sentir.
Sem erguer o duro fardo que é saber que não sou eu quem vejo mas uma parte de mim.
Que são depois processadas quimicamente pelo meu corpo e chegam até ao duro mar cristal onde tomam as suas várias... perspectivas.
Onde são vistas...

2-novembro-2008