preferia libertar-me...

Faço de conta que sou um Humano e que sinto como tu.
Faço de conta que compreendo tudo e todos e que dentro de mim não fere a lâmina do fraco com a força do fogo do desajustado.
Falo e aconselho como se soubesse o que digo quando o que me resta são apenas perguntas.
Ando com o queixo erguido como se soubesse para onde vou e com o passo decidido de quem não faz ideia do que aqui anda a fazer...
Todos os dias me sinto mais perdida mas ainda assim brinco com esta minha instabilidade fazendo de conta que isto não passa de um jogo de equilíbrio e que esta corda não está a milhares de kilometros de altura, que não existe o mínimo menor perigo.
Vou sugerindo a todos o melhor caminho e falo com a força da certeza na voz quando dentro de mim se ouve «tu não sabes nada»
Queria ter respostas (nem que uma) para as várias questões que finjo responder.

A culpa não é tua.
A minha incapacidade de lidar comigo mesma já estava em mim.
Tento com toda a força faze-la esconder-se e tirar de dentro de mim a chama que me impele a ser.
Tento abanar a cabeça e retirar de dentro de mim a ideia de que estou completamente deslocada.
Faço-me forte, justa e verbalizo o que gostaria que em mim fosse verdade.
Tudo para que não me vejam, nem imaginem... o que é ser dentro de mim.
Mostro caminhos brilhantes, soluções homogéneas, saturadas do eu que invento existir em mim... insaturadas de mim...
É verdade que despertas em mim um sentimento que tenho a todo custo tentado extinguir.
Recordas-me que eu já acreditei que podia ser eu sem deixar de lado a minha sensibilidade.
Transformei-me... tenho vindo a afogar de mim o que sou para poder ser.
e detesto-me por isso.

Porque é que não tive a força necessária para continuar a ser eu?
Porque não segui eu o meu caminho verdadeiro?
Porque me deixei perder?
Porque é que me perdi sem deixar um rasto da minha origem?
Se fosse possivel... voltava atrás.
É claro que digo que «não me arrependo de nada» tambem porque sei que não teria a consciência do meu erro se o não tivesse cometido...

Às vezes o nosso caminho não está assim tão traçado e um menor desvio coloca-nos, para sempre, numa estrada que não deveria ter sido a nossa.
Se o meu cérebro mandava de uma forma, as influências externas atiravam-me para uma auto-estrada de asneiras onde a minha real-estrutura apenas gritava sem que ninguem a ouvisse.
e até hoje... nem ninguem ouviu.

Já não grito.
Já me não doem os músculos retesados de raiva.
Já não sinto...
A não ser por vezes, quando a criança que ainda existe em mim (calada, quieta no seu canto apenas a brincar ao faz-de-conta-que-não-existes) suspira, sozinha, abandonada e triste por não me ter tido como sua companhia.
Sei hoje que foi um erro e receio com todas as minhas moléculas que já vou tarde para a acordar do sono obrigado ao qual ela se rendeu.
Sinto-a índigo em bruma, tapada pelas minhas insensibilidades-fingidas que a já afogaram...
Às vezes... penso até que a matei...

A culpa é tua. Fizeste-me sentir que ainda a tenho em mim e que ela ainda sofre no silêncio escuro da sua solidão.
Prendi-te numa torre, bloqueei o sinal que de ti saía, perdi a chave, depois de a ter escondido...
e agora... sei que estás aí, sinto o teu grito de loucura dentro de mim, sem que te ti saia um som que seja... e receio que seja tarde de mais para te poder ir buscar.
Às vezes anseio que a minha matéria se dissipe... que eu deixe de existir com esta consciência.
Vejo-me muitas vezes a perder o meu eu-existencial e não consigo sentir pena.
Sinto até uma ligeira sensação de alívio... como se isso acontecesse... e me libertasse.
Preciso dessa liberdade para ti.
Preciso que possas ser outra vez livre e expressiva. Mas sinto que para isso apenas uma evaporação de mim seria solução.
Às vezes, sem pedir, peço que me venham buscar...
Que me salvem disto e que de uma vez por todas deitem abaixo a torre onde te prendi e que, comigo desmaterializada, a tua força e saber possam espalhar-se pelo Universo conforme deveria ter sido.
Calo o meu grito, estrangulo o meu pedido de socorro, reprimo-te dentro de mim e mesmo agora, quando és tu que me tentas salvar opto por conter os teus pedidos e suprimir de ti as minhas sensações.

Preferia libertar-me...

10-novembro-2009
«Morrer não é acabar, é a suprema manhã.»

decididamente perdidos sem querermos encontrar

e quando pensámos que haviamos encontrado eis que está perdido o que perseguimos, está devoluto o que construimos e navega com velas rotas pelo caminho esburacadamente alcatroado dos nossos sentidos...
é dito o que não sabemos e verbalizamos o que esperamos ouvir acreditando que tudo é mais forte que o resto que não conseguimos dominar.
encontramo-nos diariamente, trocamos entre nós o amor de quem se conheçe e fingimos (tão bem) que nos conhecemos.
rodopiamos em zig-zag ao mesmo tempo que fazemos de conta (tão bem) que estamos juntos.
se o Amor fosse tempo, nós seriamos amantes.
se o Amor fosse amar... nós teriamos connosco as amarras do tempo e estariamos juntos. seriamos juntos o que inventamos (tão bem) ser nosso.
quando queremos tudo acabamos por encontrá-lo.
foi assim que nos transmutámos no que nos transformamos e foi dessa equação que retirámos as nossas identidades sabendo que juntos somos o que queremos um para o outro.
e se Amar não chega? e se Amar não é isto? e se a insensatez das nossas intenções insanas são as barreiras que não alcançamos por estarmos ocupados em fazer feliz o que não é nosso?
tenho tantas questões a colocar e tão poucas respostas às quais consigo chegar sozinha.
crio esta invenção sem materializa-la e depois brinco com o que imaginei fazendo-me feliz dentro das minhas ausências e acreditando que estás comigo porque tambem tu ao brincar sozinho junto de mim fazes de conta que brincamos juntos quando estamos tão longe, tão separados pelo espaço intersticial das nossas almas que se juntaram, passaram uma pela outra, mostraram-se, dissiparam-se uma na outra e, ao reunirem-se cada uma a si própria... deixaram em cada um de nós a imensa necessidade em sermos juntos quando há muito cada uma das nossas almas continuou o seu caminho sozinho, brincando com as próprias imagens mas agora continuando a fingir que estamos juntos...
é assim que nos sinto... enormes conjuntos complementares na maior intenção de todas... a de ser feliz.
até quando seremos capazes de estando no mesmo espaço não nos tocarmos?
caminhamos na mesma direcção de mãos dadas (tão bem fingidas) e fazemos cada um acreditar que o outro está acompanhado e que vamos juntos, na mesma direcção, como um.
e somos, juntamente separados, a identidade que queriamos ter sem a sermos, mostrando a todos que é possível existirmos sem sermos verdade e em nós fazendo acreditar que somos capazes de continuar.
e quando pensámos que haviamos encontrado eis que damos conta (mas fingimos tão bem) que vai cada um no seu caminho, pararelo, prependicular ao que somos, dentro do plano volumétrico em que nos sentimos, cada vez mais perto da lonjura dos nossos corpos.
estamos devolutos e o que construimos navega com velas rotas pelo caminho esburacadamente alcatroado dos nossos sentidos...
abandonados, decididamente perdidos sem querermos encontrar, tudo porque estamos (vistos de dentro) bem.
até quando seremos capazes de vaguear com sentido?

27-outubro-2009
«perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando»

posso escrever?

às vezes quero escrever e não tenho onde.
tenho pensamentos soltos que prometi que iria libertando mas muitas, tantas vezes, não o faço.
e perdem-se... esses pensamentos.
frases bonitas ou muito trabalhadas, até raciocinadas mas quando tentadas.... (ai, falta-me a palavra, às vezes acontece... penso mais rápido do que consigo escrever e lá vão elas, outra vez, as ideias e pensamentos, a fugir, as malandras!...)
quando tentadas.... explicar.

humpf, apeteceu-me pôr.
explicar pensamentos, ideias que não passam de sensações ou de... visões.
quero escrever melhor, quero explicar-me melhor, ou apenas compreender-me e não ter que explicar nada.
mas acima de tudo quero escrever melhor e, para isso, vai ser necessário continuar a escrever estas palavras repetidas repetidamente até à exaustão.
porque um dia eu prometi que seriam coisas e não é só isto que te quero deixar.
Já estamos fartos de estar neste prisma.
Vamos rodar a coisa e ver o que se vê.
Tentar, mais uma vez, aceitar que devemos querer o que quisermos, nunca querendo mal a ninguem, tentando explicar que...

humpf, sorri ironicamente outra vez.
lá estou eu a querer 'explicar', novamente e incessantemente...
eu quero escrever!

larguemos, por vezes, as velas aos nossos barcos...
Navegámos sempre em melhores ventos... e que chegamos.

25-Setembro-2009
«Galante conquistador, dispersando o pólen das flores, o vento faz uma boda universal»

não estou mais sábia...

Certamente já te aconteceu estares naqueles dias em que uma grande tempestade começa e... com ela o teu dia.
Há tanta coisa fora do lugar, que podia e devia ser arranjada...
É só preciso é ter força e conseguir escolher o caminho certo. E eu disse certo, não disse fácil. É que é normalmente o fácil que escolhemos porque exactamente... é mais fácil.

Facilita a ti, a mim e aos outros todos que estão envolvidos em nós mas o meu grande receio é que este não seja o nosso caminho.
Tentamos com demasiada força ou nem tentámos?
Vejo as coisas a fugirem ao nosso controlo e o nosso descontrolo a ser cada vez mais desmedido.
Vejo-te a fugir das minhas responsabilidades não querendo partilhar o fardo e, compreendo. É claro que compreendo mas... não é isso que quero.

Estou farta de quem foge, de quem não conversa, de quem não quer entender, de quem acha que eu forço, que se afasta porque as coisas não são simples e porque de facto na minha montanha-russa constante as nauseas são mais que muitas.
Aceito perfeitamente que não as queiras viver comigo mas tambem não te deveria mentir e dizer que as coisas vão melhorar quando... não acredito.
Às vezes tambem tenho os meus momentos em que me sinto perdida, acho que nada faço aqui, não percebo o meu objectivo, não sinto a minha âncora e mais até, tenho mesmo mesmo vontade é de largar amarras e deixar-me ir.
Às vezes... apetece-me gritar.
Gritar contigo porque não queres fazer um esforço e comigo porque espero sempre que as pessoas façam um esforço.

Na geração do facilitismo... ninguem se esforça.
Nascemos com destino traçado («vais crescer, estudar, ir para a faculdade, acabar o teu curso») e perdemos o rumo pois depois das ditas premissas serem cumpridas ficamos no vácuo e sabemos que o resto já está ditado (que vida miseravelmente controlada a nossa) e que assim dizem as-regras-da-vida: «arranjar alguem, casar, ter filhos, cria-los e morrer».

Ora que eu não sei se quero isto.
Alias, tão cedo me desviei do caminho para mim traçado que muito cedo tambem percebi que estava lixada.
É que sem linhas orientadoras e sem ninguem que compreenda a direcção que queres tomar... já se sabe... todos te caem em cima e a tua forma de estar é errada.
Sempre estive errada.
E continuo a estar...
É claro que a minha imensa necessidade de fugir disto e a minha âncora-há-muito-desaparecida tem a ver com esta minha perdição.
(«Tu estás perdida! Ainda vais chorar lágrimas de sangue...»)

É verdade... Assumo, ok. Estou perdida.
E pior que isso é nem sequer saber para onde vou!!
Ah pois! que maior problema do que não se saber onde se está é nem sequer ter uma pista do para onde vamos ou queremos e eu... eu não faço ideia para onde quero ir.

Pensando honestamente no assunto...
É muito simples.
Ora, primeiro queria que fossemos capazes de, em vez de estar a criticar os outros... conseguissemos perceber.
É que, bolas!! há limites não achas?
Todos sabemos que andar por aqui não é fácil mas tambem ninguem tem que se impor.
Eu imponho-me?? É verdade, olha... Imponho... E agora?
Se eu não tenho direcção ao menos que tenha personalidade.
É assim que me imponho ao espaço que ocupo neste Universo.
E consegues compreender?
Talvez... mas como óbvio temos todos muito medo.
Nem sabemos bem do quê... talvez só mesmo das pessoas como eu que não ouviram a voz-da-razão nem seguiram o caminho traçado e que andam pelo Mundo sem saberem o que andam a fazer.
Pois... e até eu sou afectada por esse medo de mim própria e da minha incapacidade em aceitar as regras do Mundo.
Pois que tinha que ser mais domável, tinha que aceitar, tinha que agachar tal como queriam os nossos perceptores que agachessemos perante o nosso destino traçado (e que bem traçado! conheço muita gente muito feliz apenas porque andou na «linha»).
Convinha tambem não ter tanta força de opinião nem tanta opinião de força.
É que já sabe... quando não consegues opinar de acordo com o que se quer de ti... há chatice! («Tu estás perdida! Ainda vais chorar lágrimas de sangue...»)

Sempre foi assim... sempre ouvi de fora e dentro da minha cabeça que um dia choraria lágrimas de sangue apenas porque não fiz o que me estava destinado.
E hoje choro.
Choro porque não consegui romper com nada do que me estava destinado, apenas com o caminho.
Não acredito que o destino esteja logo traçado mas sim que há muitos caminhos e eu, sempre quis fugir do principal pois nele as coisas eram-me impostas. Em tudo. Tudo era imposto, nada era escolhido, tudo era redutor, nada me fazia crescer.
Por momentos, perdida, achei que estava certa e agora, completamente curada da cegueira da fuga, vejo que apenas corri mais rápido a ser aquilo que os outros queriam.
Não estou mais sábia. Apenas mais velha e capaz de ver as coisas.

E sabes o que vejo?
Vejo que nestas correrias de não perder o Mundo mas viver a minha vida, voltei a deixar-me domar fazendo de conta que nada disso acontecia e estive prestes a marcar passo no destino que não tem nada a ver comigo.
É que de facto, eu sou daqueles que estão aqui, apenas a serem diferentes, para que vocês que percorrem o caminho certinho-direitinho (esquerda, direira... esquerda, direita... sempre a bom ritmo!) possam olhar e ver o que não se faz.
Sirvo de exemplo para quem está a entrar no mundo das escolhas possa olhar para mim e pensar «não vou fazer como ela» e afinal, que tudo aquilo que eu queria era mostrar que às vezes vale a pena sermos nós próprios e tentarmos andar com as nossas forças, não vale mais que um exemplo.

Pelo menos eu sirvo de exemplo.
Ao que é impositivo, ao que não se coaduna com a felicidade-mundana que eu nunca quis.
Não quero e continuarei a tentar ter forças para não ter.
E se choro não são as lágrimas de sangue pelo querer ser diferente mas sim porque no fundo... queria ser aceite.

Começa por conhecer-me e aceitar que sou diferente de ti.
Com muito orgulho.

9-Setembro-2009
«quando se persiste em seguir o caminho que a nada conduz, é que se estima esse caminho pelo que vale»

panos soltos misturados tal qual manta de retalho

queremos lembrar-nos da infância...
recordar como eramos, se somos o que fomos...
tento puxar pela memória e relembro panos soltos misturados tal qual manta de retalho a qual ao longo dos anos veio a ser fiada sem que no entanto os pedaços fossem sequer iguais.
Já não sei do que me lembro, do que imagino, se imagino o que relembro se apenas vejo o que quero ver.

Sei, porque já revi, momentos fantásticos, imagens empoeiradas do tempo que já foi.
E o tempo vai passando e aos quadros embaciados pelos anos juntam-se imagens, sons, sensações e lembranças do pó do passado.

Às vezes quero abanar esse tempo e recordar claramente o que já era e como eu era.
Será que mudei?
O tempo... tudo muda... e a nós?
Acreditas que somos imutaveis ou transmutaveis?
Sofremos processos ao longo do tempo e de gás passamos a liquido, de liquido a sólido e novamente a gás...
Somos seres compostos, simples, orgânicos, inorgânicos, multicelulares, unilaterais, pensadores...
Temos variedade, emotividade, criamos, destruimos, amamos, estamos, isolamos, pensamos, fazemos, estamos cá, desaparecemos somos inatos, incontrolaveis sempre a perseguir o nosso futuro com âncora no passado.

Este é o quadro do meu presente, a voz do meu estar a luz com que me vejo.
As ideias, as opções, os caminhos que vamos tendo, perdendo, deixando ir, bailando ao som do Universo nesta festa que é estar aqui.
O momento único onde temos a consicência de ser.
Escolhi ter essa consicência.
Escolhi, revendo as imagens empoeiradas, perder a minha unicidade e ganhar algo muito maior.
Humanidade.
O meu legado é mostrar que apesar de todas as maldades da vida, dos Humanos, devemos e temos a capacidade de ultrapassar as nossas desilusões e perseguir sempre, sempre algo maior que nós individualmente...
Quero que saibas que mesmo nos momentos em que choro derrotada, consigo largar ao Universo a minha força de lutar contra, lutar a favor, lutar.
É a luta das nossas vidas que liberta a energia da constância.
Devemos, é nossa obrigação, andar, correr, voar por nós e deixar sempre, sempre um rasto daquilo que queremos para o Mundo.
Passa por nós pedirmos, implorarmos, exigirmos o melhor. sempre. sempre...

Olha para as tuas imagens empoeiradas, para os teus momentos enevoados e lembra-te quando eras criança.
Quando o salto era uma liberdade, quando a corrida era um concurso contigo próprio quando o Mundo girar era apenas produto da tua imaginação, quando o riso era solto e as ideias eram voláteis, quando o hoje era apenas um momento para o amanhã e tudo o que fazias era com a esperança de que um dia, quando fosses grande, o Universo ser perfeito.

Perguntas-te se estás sozinho.
Respondo-te: não. não estás.
Estamos todos juntos e somos nós que podemos mudar as coisas.
Passa por nós acreditar, formar, criar viabilidade para que o Mundo que existia nas nossas almas de criança se converta em realidade e que essa realidade seja tão somente o que queremos.

Esqueçe o que te ensinaram.
Viver não doi. Doi apenas viver não dando os passos em frente por mais que em frente seja apenas um abismo.
Anda. Dá o passo e imagina que na tua frente existe um novo Mundo. Aquele que construiste quando a tua mente pura acreditava ser possível.
Anda...
Caminha em frente e cria a tua ponte para o outro lado.
O lado onde as ondas caem de mansinho do céu, o vento bate nas rochas, a neve arrasta as poeiras das telas da imaginação e o sol caminha brevemente com passadas largas ao longo da costa enquanto a Lua brilha ao largo num qualquer barquinho de luz...
Deixa-te entrar por ti a dentro e vê que, enquanto te tiveres, estarás sempre na melhor companhia.
Aceita-te, vê o que tens vindo a criar e caminha, tal como o Sol, de mão dada com a tua manta de retalho a qual ao longo dos anos veio a ser fiada sem que no entanto os pedaços fossem sequer iguais.
E o caminho alarga, mais pontes são passadas, mais invenções são tornadas realidade e tu estarás sempre por aqui até que...

Asas crescem e tu voas...
E é nesse momento em que te vês de fora para dentro, consegues incorporar-te e compreender que mesmo a dor mais profunda é apenas uma reacção da acção de estar vivo, de ser.

17-Julho-2009
«one day i'm gonna grow wings on a chemical reaction, hysterical and useless»

Just beat it!

Showin' how funky and strong is your fight it doesn't matter who's wrong or right .
Just beat it, beat it!

25-Junho-2009

exteriorizações?

a riqueza da leitura sente-se naquilo que dizemos e não naquilo que exteriorizamos.
tudo é capaz de ver as reacções de sentir as minhas emoções ridicularizadas em extremos bizarros ditos como «exteriorizações».
no fundo, aquilo de mim deixo que seja visto.
aquilo que é a minha reacção de momento e não aquilo que seria efectivamente o meu sentir que é neste momento muito mais fluido que o meu escrever.
agora aqui posso vos dizer que estou bem. que estou a ouvir as minhas músicas e que nada no Universo mudou.
Terei de mudar eu.
As coisas são e vêm por etapas.
Depois destas apenas há mais caminho.
É sempre assim que as coisas se passam.
Já muito me dou por contente que neste momento vão e vêm coisas de diferentes prismas e como tal as alterações vão sendo facilmente toleradas e serenamente aconchegadas dentro da batalha possivel.
E que bataLHA!
Cada dia é um rodopio.
Tento ve-los como umas «férias-de-mim-mesma».
Tempo em que.............. espero.
Pacientemente mas com a certeza de que...
Tudo mudou.

E tudo em mim ficou igual.

mais uma oportunidade...

Dos meus olhos caem lágrimas de terror.

Amedronta-me ver o sofrimento nos outros e sinto como se fossem minhas as dores dos que vou vendo.
Doi-me sobretudo ver que depois de tantos anos de vida quem mais sofre é quem cá continua.
Os jovens, do alto da sua recem adquirida «personalidade» vêem que talvez exista para eles a «tal» oportunidade.
Mas a quem tem mais para trás do que em frente... sinto-as gritar em pânico porque o tempo para elas não é mais que um arrastar.

E dos meus olhos caem lágrimas de terror porque receio ver neles o que sobejará de mim.
Não quero o peso de nada mas não vou a lado nenhum.
Tambem eu, do alto da minha soberba experiência de jovem, sabia que o Universo guardava para mim grandes feitos e... nada fiz.
Mantenho-me recta e sei que o Universo assim o quer mas...
Sofro o silêncio dos que gritam dentro de si a dor do peso de não serem nada.
A sociedade ensina-nos que só quem é falado, apresentado ao mundo, vale e será lembrado.
Receio não estar nesse «lote».

Nunca nada farei para que seja lembrada pelo Mundo mas sei que nem isso é tudo.
Só tenho medo, pavor aterrorizado, de que quando houver mais para trás do que existir em frente, ver-me vazia.
Apenas isso me atemoriza e faz cair dos meus olhos lágrimas secas.
Não o digo e faço de conta que está tudo bem.
Lido com as coisas quando acontecem e prefiro deixar-me indo mas, ao mesmo tempo, é olhando os outros que fazem igual a mim que sei estar errada.
ou não...

É dificil estar aqui e o meu medo aumenta há medida que mais vou vendo.
É ao ver os outros, aqueles que por tanto já passaram, que receio mais.
Tenho medo de me tornar como elas, de esvaziar o meu olhar de alma e de apenas me entregar à vida.
Não quero.
Não quero ser desprovida de esperança.
Não quero esvaziar a minha alma mas, olhando para os olhos de quem se conformou, espelho nos meus as lágrimas de terror que eles não choram.

Cada vez que o sinto encolho-me em mim tentanto fazer de conta que os alfinetes da vida não se cravam na minha alma.
(tenho medo que a esvaziem...)
Quando o que quero é trazer aos outros a ideia de que o Universo nos presenteia a alma com lufadas de ar fresco que a fazem insuflar até ela sair de nós, receio mostrar o meu medo mas... eu sou apenas como vocês e... temos todos os mesmos medos.

Queria garantir que vai ficar tudo bem mas... preciso continuar a convencer-me disso.
Agora vou deixando cair as minhas lágrimas de terror quando me confronto com a realidade daqueles cujo tempo corrompeu e peço ao Universo que lhes dê mais uma oportunidade com a certeza de que a peço para mim.

19-fevereiro-2009

em linha, em fila... 1, 2... 1, 2...

as coisas começam a acontecer...
rápidas e desalinhadas mas surgem.
a economia que nos subjugou durante séculos inicia o seu fim.
nem em decadência se pode falar... essa aconteceu muito antes sequer de a imaginarmos...
esta era uma solução com fim à vista mas, que nem um qualquer humano, acreditamos e deixamo-nos acreditar que sempre haveria soluções...

Cada vez mais temos as pessoas a verem-se num Mundo no qual não se sentem bem...
Uns porque de facto vêem o que se passa e outros apenas pelo receio de deixarem de estar «tão bem na vida».
Há quem tenha já a consciência de que a nossa sociedade tem que mudar e outros abanam a cabeça em tom de consentimento como se concordassem com o seu Rei... apenas porque do alto da sua ignorância limitam-se a acenar fingindo que desse assunto sabem muito...
É muito fácil estar-se «ligado»... lêem-se umas coisas de Krishnamurti, outras de Buda e... voilá! sou um ser iluminado.
Pobres de nós que estamos rodeados destes «iluminados»...
a luz... vem de nós.
Não vem de ninguem nem a ninguem pode ser retirada ou colocada.
A descoberta do Universo está dentro de ti.
E é aí que temos que ir buscar as respostas para a situação actual.

Ora pensemos...
O sistema económico está no seu limite.
A Terra está revoltada...
As doenças cada vez mais diseminadas e incontroladas...
e tudo isto... por culpa do quê? do nosso facilitismo... é o que penso.
Quisemos ser todos ricos, quisemos ser todos saudaveis...
Quisemos créditos, quisemos curas sem saber os meios...
E hoje... que temos??
Misérias...
Porque quisemos ter tudo sem nada fazer... sem nada dar em troca...
Sem esforço...
Podiamos ser sustentaveis... podiamos ser poupados em pequenas coisas e daí ter ganhos... mas acreditamos que não. Que não seria necessário.
Deixamo-nos acreditar que as coisas eram simples... e que por isso as soluções eram todas elas inconsequentes.
Tal como nós, humanos sem humanidade sem respeito nem vontade própria.
Meros carneiros diários, rotinados, em linha, em fila... 1, 2... 1, 2...
Marcamos os passos dos outros, controlamos tudo e todos, achamos, opinamos e temos certezas de tudo.
Menos de nós... que de nós para nós não conseguiremos saber nada...
Ignorantes.
Destruidores.
Perdemos a alma por crédito e deixamos levar os nossos corações em troca de BMWs.
Deprimente...

Querem soluções não é??
Mas enquanto percebiam que o sistema funcionava apenas por vezes e para as vezes de alguem...
Só se queixou quem queria continuar a ser Humano.

Nem 8 nem 80...
Nem fast-food nem veganismo...
Vamos meter nas nossas cabeças de uma vez por todas que sermos como somos, capazes de raciocinio, polegares oponiveis... serve para algo mais do que comportarmo-nos como selvagens (nem animais digo pois eles comportam-se de forma sustentavel).
Somos a pior praga que já pisou a Terra mas apenas porque dela perdemos a ligação.
Somos omniveros... e deveremos continuar a ser.
Mas podemos se-lo de forma sustentavel...
Milhares de kilos diários de comida são deitados ao lixo... leite pelas estradas e tudo porque...
Somos péssimos gestores e ainda piores Humanos.
Podemos ser Humanos e ainda assim manter um estilo de vida «confortavel».
Podemos poupar e poupar-nos... deixar de viver na miséria da rotina e, de vez em quando, voar fora de nós e fazer as coisas como elas deviam ser feitas.
Devemos apoiar a nossa agricultura, mesmo que fraca, comprando produções nacionais (mesmo que as maças não tenham aquele ar de Branca de Neve... até porque como sabemos essa estava envenenada), devemos poupar água, electricidade e até... talheres! pensem em como podem não esbanjar.
E, mais do que isso, lembrem-se que «se só eu fizer não vai dar em nada porque sou eu a fazer e os outros a desfazerem...» é pensamento de quem não tem o mínimo de compreensão do que é ser Humano.

Sejam Humanos por favor.
E não o façam por mim nem por ninguem.
Sejam egoístas e façam-no... Por vocês!

3-fevereiro-2009

entretanto...

Andei a ler muitas coisas que são igualmente estranhas como eu.
Estórias de pessoas que pensam como eu.
É sempre bom saber que não estamos sozinhos nos nossos pensamentos mesmo apesar de... só nós estarmos dentro de nós.

Pediram-me que mudasse.
Que deixasse de dar tanta importância, que deixasse de escrever com a «raiva» com que escrevo.
(foi mesmo assim que o chamaram...)
Talvez por isso durante muito tempo nada disse. Andei sozinha a pensar...
É, certamente possivel e verdadeiro, que as minhas escritas tivessem mais interesse se conseguisse inventar lindas estorias ou apenas meras estórias mas, como o disse « Pois um dia: serão coisas.
Assumido. Desde o dia em que o escrevi.»
E de facto, essas coisas, não deveriam ser... outras coisas...
Deveriam ser as minhas coisas, o meu legado a quem o quer ver a quem o poderá vir a ver...
Um Livro que contasse o que é ser eu, o que eu penso...
Egoismo ou egocentrismo?
Talvez sim... mas ainda mais que isso, vejo-o como um legado.
Para quem quiser...
Talvez mais tarde num outro Livro ou site eu me desmembre e possa criar um novo 5ecret5ystem onde se escrevam coisas bonitas ou feias mas inexistentes, inventadas.
Neste, aqui e agora, lamento...
Só me consigo debruçar sobre mim.
É um vazamento de alma...
Um escoamento de coisas que nem sempre são bonitas ou saudaveis...
Um bocadinho ao estilo miseravel das descargas poluentes... poluem cá fora mas... limpam dentro!...
(as minhas mais sinceras desculpas a todos os que estavam à espera de coisinhas mais agradaveis)

A ver... tambem nem sempre as coisas são assim tão feias...
Às vezes escrevo de amor... de paixão sempre! Escrevo sobre a alma, sobre a paz, sobre o céu e o mar sobre o que somos, o que sou, o que quero ser...
Sobre os meus amigos, sobre os meus desamores mas sempre (e isso é certo, garantido) sempre com a minha vontade.
Quero que, a quem tenha a ousadia de o ler, possa espelhar-se no que digo ou ver outros que como eu pensam.
Quero limpar a alma e esvazia-la para a poder encher outra vez.

Eu sei que é mais agradavel ler-me quando lentamente corro entre as linhas e não quando me debato contra mim mesma e contra os outros.
Tenho aprendido e espero poder ensina-lo, que o que é mais importante na vida, és tu para ti.
Não sou boa amiga, nem sequer boa companheira.
Sei.
Não sou bem nem sou mal.
Sou.
Talvez um dia eu consiga criar estórias... talvez sim.
Mas a minha imaginação é muito fraquinha. As unicas coisas que consigo fazer são análises.
Contar... não é comigo.
E é por isso que por cada coisa que escrevo dentro de mim sai algo para fora (nem sempre com este paralelismo pois escrevo muito e regurgito muito menos!) que nem sequer é pensado.
As coisas vêem e vão...
Como as ondas que atropelam a areia...
Nós enquanto estamos, somos sempre...
E as coisas vão e vêem...

Pensei em inventar a estória de uma rapariga que tem medo de si.
Depois apercebi-me que ela já existia (em mim).
Pensei em contar uma estória de uma menina que achava ser possivel um Mundo melhor.
Depois lembrei-me que já fui assim...
Tentei até, comecei dentro de mim a esboçar grande alarido, escrever o conto sobre alguem que era eternamente feliz.
Só depois me apercebi do desinteresse que isso teria!
É que, a bom ver, é o mau que faz com que o bom seja apreciado.
Se todos os dias fossemos felizes... e depois lembrei-me... que sou.
Sou feliz, completa e a minha incesante busca passa apenas por encontrar-me dentro de vocês.
E é essa a mais árdua tarefa porque não me sinto convosco.
Sinto-me em mim.
Entretanto...
Seremos todos assim?

6-janeiro-2009