decididamente perdidos sem querermos encontrar

e quando pensámos que haviamos encontrado eis que está perdido o que perseguimos, está devoluto o que construimos e navega com velas rotas pelo caminho esburacadamente alcatroado dos nossos sentidos...
é dito o que não sabemos e verbalizamos o que esperamos ouvir acreditando que tudo é mais forte que o resto que não conseguimos dominar.
encontramo-nos diariamente, trocamos entre nós o amor de quem se conheçe e fingimos (tão bem) que nos conhecemos.
rodopiamos em zig-zag ao mesmo tempo que fazemos de conta (tão bem) que estamos juntos.
se o Amor fosse tempo, nós seriamos amantes.
se o Amor fosse amar... nós teriamos connosco as amarras do tempo e estariamos juntos. seriamos juntos o que inventamos (tão bem) ser nosso.
quando queremos tudo acabamos por encontrá-lo.
foi assim que nos transmutámos no que nos transformamos e foi dessa equação que retirámos as nossas identidades sabendo que juntos somos o que queremos um para o outro.
e se Amar não chega? e se Amar não é isto? e se a insensatez das nossas intenções insanas são as barreiras que não alcançamos por estarmos ocupados em fazer feliz o que não é nosso?
tenho tantas questões a colocar e tão poucas respostas às quais consigo chegar sozinha.
crio esta invenção sem materializa-la e depois brinco com o que imaginei fazendo-me feliz dentro das minhas ausências e acreditando que estás comigo porque tambem tu ao brincar sozinho junto de mim fazes de conta que brincamos juntos quando estamos tão longe, tão separados pelo espaço intersticial das nossas almas que se juntaram, passaram uma pela outra, mostraram-se, dissiparam-se uma na outra e, ao reunirem-se cada uma a si própria... deixaram em cada um de nós a imensa necessidade em sermos juntos quando há muito cada uma das nossas almas continuou o seu caminho sozinho, brincando com as próprias imagens mas agora continuando a fingir que estamos juntos...
é assim que nos sinto... enormes conjuntos complementares na maior intenção de todas... a de ser feliz.
até quando seremos capazes de estando no mesmo espaço não nos tocarmos?
caminhamos na mesma direcção de mãos dadas (tão bem fingidas) e fazemos cada um acreditar que o outro está acompanhado e que vamos juntos, na mesma direcção, como um.
e somos, juntamente separados, a identidade que queriamos ter sem a sermos, mostrando a todos que é possível existirmos sem sermos verdade e em nós fazendo acreditar que somos capazes de continuar.
e quando pensámos que haviamos encontrado eis que damos conta (mas fingimos tão bem) que vai cada um no seu caminho, pararelo, prependicular ao que somos, dentro do plano volumétrico em que nos sentimos, cada vez mais perto da lonjura dos nossos corpos.
estamos devolutos e o que construimos navega com velas rotas pelo caminho esburacadamente alcatroado dos nossos sentidos...
abandonados, decididamente perdidos sem querermos encontrar, tudo porque estamos (vistos de dentro) bem.
até quando seremos capazes de vaguear com sentido?

27-outubro-2009
«perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando»