fará o tempo de nós mais sábios?

Há muito que não pensava nesta forma de escrever.
Há muito que deixei de o fazer...
Todos julgam que sabemos perfeitamente bem o que fazemos não compreendendo que fazemos apenas o que acontece sem que nada além do tempo o julgue.
Saberemos onde vamos? E, será que a alguém isso interessa? Faremos nós por sentir que estamos algures apenas para não parecermos desajustados ao espaço?
Eu faço por algo que não existe mas sinto-o.
Nada acontece por erro mas acontecerá alguma coisa que não por causa do tempo?
Tanto tempo e tantas mais questões... Nada mudou, apenas o número incontável de hipóteses, teorias, teoremas por explicar, erros por explicitar, caminhos que se encontram desencontrados, sensações perdidas no vácuo das emoções e centenas de milhares de respirações e batidas do coração na taquicardia que acompanha o meu soluço profundo de palpitações.
Pele seca, cabelo oleoso..
Tempo passado longe da higiene mental em que vivemos onde tudo tem um sentido e significado, onde tudo existe confortado pela racionalidade.
Deixei de viver assim e passei a viver desconfortavelmente dentro de quem não faz a mínima ideia de que merece continuar a escrever pois em cada letra saída da ponta dos meus dedos (longe vão os tempos da especial lapiseira comprada para o efeito) e longe vão os tempos em que me desnudava em letras e sentidos de alma.
Hoje mais calma, mais comedida, menos sentimentalista, menos especializada em fazer de conta que sou contida.
Corrijo os erros à medida que os encontro sem me aperceber que o que o meu cérebro me diz é precisamente: desliga.
Desliga do querer fazer bem, do querer fazer controlado e direito, deixa-te ir e desliga o controlo, permite-te fazer mal e, mais do que isso, permite-te compreender que existes em espaço e em pessoa.
És o que fugiste de ser e nem por isso consegues retira-lo de ti porque tudo o que um dia foste és e continuarás a exercer como força superior do teu acontecimento, único e inextinguível.
Paro por momentos desta maratona que os meus dedos querem começar, dizendo-lhes baixinho «não estou preparada - vamos devagar...» e ninguém me ouve.
Eu sei do que fujo... Fujo do que guardo no meu cérebro por entre palavras de optimismo e sensacionalismo, aquelas mesmas estreladas e espelhadas de natureza mentirosa.
Do arredondar dos sons que ouço do que são as palavras meio em verso, meio cantadas por entre os assombrosos estridentes azuis dos meus bloqueios.
Anos, tempos em que pensei em silêncio sem aproveitar o que o meu pensamento me permite, o clarificar dos tempos batidos do meu coração por entre palavras.
Sinto-me cansada, sem forças, necessitada de extrapolar e hiperbolizar o meu ser sem que com isso possa garantir a sobrevivência de quem dentro de mim vive, abafado pela realidade onde me depositei e que me afogou neste mero acontecimento ao qual hoje chamei «viver».
Só a palavra, «Viver» já deveria ser apenas guardada para quem o faz e não para quem, como eu, o arrasta... Sinto tudo como toda a gente e, ainda assim sinto-me culpada por não fazer e, ao contrário dos outros que vivem sonhos na vida real eu vivo-os em terrenos assustadores e em personagens que desconheço dentro de mim mesma.
Sinto-me cansada e pergunto se o tempo fará de nós mais sábios ou se isso é apenas o (bonito) nome de uma canção...