avisto... desarmada

O meu erro é querer demais...
É achar que chega quando não existe e que está óptimo quando desaba...
Às vezes vemos as coisas da maneira que elas são e outras, de frente...
É sempre uma diferente perspectiva, o ver de frente.
É a mesma, mesma coisa, mas por estar de frente parece apenas ter uma dimensão e muitas vezes, toldados por aquilo que achamos ser multidimensional, não as vemos como elas são. Simples.

Se tudo fosse como queremos...
O dia azul e brilhante, mesmo que frio, ainda assim delicioso...
O mar limpido cristal onde o céu se espelha e onde as estrelas piscam como uma porta para essa outra dimensão.
Onde tudo é exactamente como queremos...
Onde as coisas são simples e onde amar é querer.
Onde as ondas são altas em mar e calmas na costa...
Onde o vento sopra com tal força que se erguem no ar as imagens que fazemos dentro das nossas cabeças, onde essas lindas e leves imagens não se esmagam contra o chão e onde tudo é sempre exactamente como queremos...

Esgota-me pensar que do ribombar dos trovões saem raios como de dentro de mim...
Vejo as coisas de frente e afinal são as mesmas, despudoradas da minha infantilidade e dos traços de arco-íris que finjo pousar sobre tudo...
A noite, a Lua, as estrelas, o vento que sopra e evapora as pequenas particulas de fingimento que voam e se erguem nos ares a kilometros de distância de nós...
As coisas voam, sabes?
Tudo voa...
Dentro de nós voa o passado, e o futuro, pesa o presente ao mesmo tempo que flutua...
As coisas mais importantes são as do agora porque são as que temos mas as coisas que ansiamos são as que passámos, e que pesam hoje como uma lembrança do amanhã que não chega porque já foi, porque... voou...
Deixamo-las voar, sabes??
Deixamo-las ir porque não sabiamos como as pesar e porque esperavamos ansiosamente que as coisas, multidimensionais como as vemos, fossem iguais...
As coisas nunca são iguais...
As coisas são seres mutáveis dentro de nós. Cada um ve-as como quando olho para o limpido mar cristal... de uma outra dimensão. Que é a sua... que é que está dentro de nós e que nos faz ser o ‘eu’...

Pensar que voltamos. Sempre. Atrás...

Extasia-me acreditar que as coisas são e têem a importância que lhes damos.
Aniquila-me pensar que faço dos meus pensamentos coisas e que elas tomam o seu corpo com as várias visões que dela vejo.
O meu cérebro não vê.
Os meus olhos não conseguem compreender...
E apenas porque é... assim.
-as coisas não são as que vemos mas aquelas que os nossos olhos espelham no céu de cada um dos nossos mares.
E esses?
Os mares??
Quem são?...
-as histórias do nosso passado, os sonhos dos nossos presentes e o momento que cada um de nós vive dentro de si.
Dou respostas às minhas próprias perguntas e sei que não passam de imagens reflectidas do meu ‘eu’.
Queria às vezes deixar de poder ser quem sou e depois voltar a mim.
Queria sentir o vento que ergue acima do céu as imagens e evapora as pequenas particulas de fingimento.
E ser leve outra vez.
Sem sentir.
Sem erguer o duro fardo que é saber que não sou eu quem vejo mas uma parte de mim.
Que são depois processadas quimicamente pelo meu corpo e chegam até ao duro mar cristal onde tomam as suas várias... perspectivas.
Onde são vistas...

2-novembro-2008

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