a Música que nos fez dançar

o hoje, o amanhã, o eterno ontem que perdura e que nada muda, tudo gasta.
as memórias empoeiradas que mais parecem ser imaginadas do que fomos.
Nuns binóculos de ver ao perto esqueço a imagem do que tivemos e já nem recordo se o tempo passou ou apenas parou.
Eramos pétalas soltas ao vento que o amor juntou em lindas flores que o calor embalsamou.
Parámos no tempo e não mais sentimos o calor um do outro nem nunca mais nos olhámos como quando eramos pétalas.
transformámo-nos, transformou-nos o tempo em estátuas belas de branco mármore onde nem os pássaros pousam com medo de estragar.
Avariámo-nos em espaços bi-partidos pelo metrónomo que não pára de tic-tactear os nossos corações certo de que o tempo os congelou.
Não foi o frio que o parou, foi o calor das imagens que transpusemos de nós, dos nossos sonhos.
e deixamos acabar a música, continuamos a dançar ao som do silêncio que se interpôs entre nós, que separa os nossos corpos, reune as nossas almas longe de nós e faz com que nos sintamos uno com o Universo sem estarmos em nós.

Tenho medo de dizer o que penso.
Tenho medo de sentir que te perdi e por isso nada verbalizo. Deixo-me continuar a dançar fingindo existir ainda no ar a vibração melódica do nosso Amor.
Tenho medo que te percas de mim se, quando abrires os olhos, tiveres a certeza de que já não há música em nós, que a perdeste, deixaste de a ouvir, tapaste os teus sentidos e fizeste de conta que não vias.
Tenho medo que não lutes, que finjas que não resentes o ar frio que pesa em nós, que digas que o abraço que nos une é apenas ausência de espaço...
e por isso fico calada, abanando o meu cansado corpo ao som da inexistência de vibração imitando uma melodia que há muito deixou de tocar fora de nós e que, na nossa intensa vontade de sermos felizes deixamos calar, deixando no ar a ideia de que nada nunca a faria deixar de soar dentro de nós.
Ouve-la?
Ainda a ouves?
Sente-la?
Ainda a sentes?
receio a tua resposta. sei que vais tentar ouvi-la e, tenho medo, muito medo, porque sei que dentro de ti não mais toca a mesma sinfonia, sei que fora de nós há Musica mas que essa, aquela que nos fez dançar não mais te faz vibrar.

31-maio-2010
«A Música começa onde acaba a fala»
(Ernst T. A. Hoffmann)
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