quando a alegria de te ter tido tenta fugir de dentro de mim

o meu Amor partiu...
deixou-me com um vazio na alma e uma tristeza profunda que nunca nada preencherá...
deixou-me com o coração cheio de um tão grande Amor que não sei se algum dia algo se assemelhará...
não há nada tão limpo e transparente como este Amor, que chegou pequenino, 500g de puro carinho e foi crescendo até se tornar em toneladas de risos, alegrias, travessuras, e de um tão maravilhoso mau-feitio que era impossível não me sentir orgulhosa de ser amada...
só ele me fez sentir que valia a pena ser Eu. por ele, pela menina que se perdeu a achar que não valia nada e que se encontrou naquele tão pequenino e rápido coração, cheio de extraordinária luz de Amor...
é o Cão-Mais-Lindo-do-Mundo... todos os que tiveram a sorte de o conhecer sabiam...
é o Amor-Mais-Lindo-do-Meu-Coração... aquele que me fez ter coragem, que comigo enfrentou todas as agruras que nos atravessavam, que fez de mim a pessoa mais corajosa que conheci e que tão cedo me deixou...
sempre pensei que vivessemos para sempre... sempre achei que morria no dia em que partisses... e assim foi... dentro de mim um milhão de estilhaços vivos não são mais do que fragmentos da pessoa que criaste...
desculpa... não sou forte o suficiente para aguentar viver sem ti... morri e continuo a existir porque a vida humana é assim... um arrastar eterno de dores e infelicidades...
todos os dias tento acreditar que fui capaz de te fazer feliz e todos os dias choro por saber que sem ti não sou a pessoa que querias fazer de mim...
não há nada mais doloroso do que saber-te longe, sentir-te em todos os momentos e todos os cantos, ter-te arrancado a esta vida por saber que sofrias...
devia ser capaz, devia ter dentro de mim a vitalidade que me mostraste, que diariamente deitavas sobre mim, mas não sou capaz...
sinto-me vazia de esperança, preenchida por uma tão grande fracção que receio nunca vir a ser possível recompor-me...
fizeste-me amar, fizeste-me sentir que eu era suficiente, que juntos eramos invenciveis e que por ti eu seria capaz de arrancar ao Mundo tudo o que ele nos devia mas no fim...
ah tão grande dor... ah tão grande desilusão saber que o Mundo nos vencia, que o que crescia dentro de ti consumia toda a força do nosso Amor e que no fim, caso não tivesse o denodo de extinguir a tua vida, eu própria ia morrendo vendo-te a morrer...
deixei-te ir, não porque quisesse ou porque fosse mais fácil para mim, mas sim porque os teus olhos gritavam «não te quero deixar mas esta dor que sinto destrói a alegria do que eu sou» e isso... isso eu não podia deixar acontecer...
sempre te prometi que faria o melhor para ti, por ti, e não por mim...
mudei toda a minha Vida por ti, porque sabia que precisavas que fosse melhor, e fi-lo não por ter a valentia que parecia, mas porque tu me impelias para a felicidade...
fui somente alegre por te ter, fui tão apaixonadamente amada que vivia sem saber valorizar isso e hoje, quando vejo os espaços vazios que deixaste, preencho-os com a tua imagem para tentar sentir ainda um pouco do que eu já fui contigo...
nada preenche este vazio, nada me faz sentir que algum dia eu consiga voltar a ser a pessoa que fizeste de mim mas, prometo, a todo o momento tento, quando a alegria de te ter tido tenta fugir de dentro de mim, empurra-la mais para dentro do meu coração e aí embala-la, como fiz com o teu corpo pesado e sem vida, quando morreste nos meus braços...

20 Julho 2019
«Alguns têm a sorte ou a desgraça de alguém fazer lume para rebentarem o que são, ver-se o que estava por baixo do que estava por cima.»
Vergílio Ferreira