repuxos de pura ignorância

Diz-se que se é inteligente.
Diz-se ter-se inteligência.
Diz-se até que é inteligência.
Digo-te que é apenas um meio através do qual se sobrevive...
Às ondas de ideias refrescantes que são prensadas em tornos de marceneiro, até aos pregos com que se penduram os quadros das nossas ideias, a inteligência mais não é que um utensílio atrás do qual se escondem as complicadas dificuldades que nem a nós assumimos.
Sobrevive-se...

Vais-te permitindo encontrar respostas e soluções ditas inteligentes as quais mais não são do que apenas versões do que poderia ser a tua vida se sobre ela menos pensasses e mais realizasses... como os engenheiro e doutores nas suas eternas batalhas sobre quem é mais imprescindível para a execução de tão belo plano-arquitectado... e ainda aqui falta a guerra com o arquitecto!...
enfim... batalhas por entre palavras caras - ditas "léxico" para esses - e por entre ideias-ideais de quem pode sempre falar com conhecimento de causa e nunca erra nem nunca leva ninguém a errar...
outros, ainda mais inteligentes, repletos da mais pura inteligência volátil, gasta e rota, vão desgastando as suas extraordinárias soluções em repuxos de pura ignorância que por eles saem sem sequer se darem conta...
ah! como adoro ser inteligente e poder ter a supremacia de, jocosamente, rir de mim própria e da minha inabalável estupidez!



12-setembro-2013
«A inteligência cria em volta de nós um mar imenso de ondas, de espumas, de destroços, no meio do qual somos depois o náufrago que se revolta, que se debate em vão.»
Florbela Espanca