piano...

Nos últimos tempos tenho vivido intensamente. Sentido com todos os sentidos mais apurados, de volta à essência do sentido.
Falo e abro muito os olhos como se com isso conseguisse ver mais, melhor, do que o que vejo e a dor de apenas ver a realidade aguça a minha inconstância que embrumo por detrás de sorrisos gastos e de palavras sentidas apenas para os outros.
é por isso que me escondo.
deixo o piano tocar baixinho onde só os meus cílios o sentem e esqueço os sons garridos com que costumo enebriar-me, faço por não ouvir as vozes melodiosas e apenas ouço... piano.

o som dos dedos sobre as teclas, aquele som que se percebe entre os sons que as cordas fazem ecoar, aquele que, quem já tocou num piano, sabe qual é. aquele que faz do piano um instrumento agudizante da minha impaciência-de-alma, da minha falta-de-paz-de-espírito.
é aquele som, breve, seco que antecede cada uma das notas em que me revejo.
se eu fosse um piano, eu seria aquele som. que quase ninguem ouve, que não é parte principal da música mas que é, para mim, parte da melodia.

«A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos.»
(Ludwig Beethoven)

1 comentário:

SuRi disse...

Não existem elogios suficientes para te tecer, pois qualquer um ficaria bem aquém dakilo k mereces ouvir.

As palavras, para mim, muitas vezes não são suficientes para que consiga descrever o que sinto (pk sinto, e muito) através das palavras que escreves...

Por isso, e em concordância com o que escreveste, peço-te para continuares a ouvir o som melodioso, breve e seco que antecede as notas tocadas no piano e que sintas, intensamente, essas notas e que elas te tragam o alívio que tudo o restante que és obrigada a sentir todos os dias asfixia e magoa.

Quanto a mim, se me permitires, serei essas notas que quase ninguém ouve...mas que estarão aqui para serem também parte dessa melodia que faz parte da vida.