era suposto ter encontrado mais.
era suposto ter-se vivido imenso e ter aprendido muito e ter-se criado, produzido, interpretado e brotado, uma torrente imensa da mais pura sapiência.
mas ela não sabia nada.
não lia, não percebia, não entendia, não ouvia nem sentia nada.
limitava-se a abanar a cabeça em incessantes «sins» mudos como quem concorda com a sua penitência, antes mesmo de saber o seu crime.
e que crime!...
tinha perdido o norte e seguia em direcção ao sul, virando em todas as direitas que encontrava, afastando-se cada vez mais da inocência e desígnios comandados pelas forças da pureza. e tudo apenas porque esta estava contaminada... fugia dela como se disso dependesse a força de todos os Universos e se apenas com isso fosse obtida a vitória precisa de uma batalha dissipada... a pureza estava, definitivamente, contaminada.
sabia lá o que fazia, para onde ia mas, isso era certo, tinha perdido o norte...
olhava-se para ela e, com pena, como aquela que se tem das fotografias de cãezinhos escanzelados e mal tratados ou de crianças famintas e sujas a roer um pedaço de pão duro e velho, lançava-se-lhe um olhar de incongruente amparo. daqueles amparos que não valem nada... como olhar para as fotografias de cãezinhos escanzelados e mal tratados ou de crianças famintas e sujas a roer um pedaço de pão duro e velho... pura realidade.
ela, olhava, sem entender, o porquê de tanta conivência para com uma dor que não era a sua, e rasgava um sorriso mais forte que uma manhã negra de granizo e vento, escondendo por detrás dele a pena que deles sentia. curioso... sentimos todos pena uns dos outros sem que entendamos sequer ou porque a sentimos ou porque a sentimos necessário sentir. talvez porque sentimos pena dos outros para não sentir de nós, apenas porque nos foi ensinado que «pena têm as galinhas»...
«Quem não sabe ser feliz em nada pode contribuir para a felicidade.»
André Gide
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