no meu relógio onde os segundos são milésimos e as horas anos...

Há dias em que me sinto ainda mais sozinha mesmo quando tudo corre bem...
Sinto-me abandonada sem sorte e sinto-me fraca sem vontade...
Há dias em que penso que afinal não faz sentido correr... mais valia andar devagar e sem pressas... já que a lado nenhum é onde chego...
Há dias em que tudo parece estar longe dos meus sonhos e, mesmo apesar de tudo correr bem, sou eu que me afasto...
Há dias em que queria estar sozinha, ser invisivel...Não ter que respirar, viver... apenas poder existir sem qualquer ligação a este plano...
Quem olha vê um corpo mas eu, que olho para dentro de mim, não vejo nada.
Não tenho para onde ir.
Não tenho o que dizer.
Não tenho o que fazer...
Dentro de mim...
Cá fora a vida passa tão depressa... as pessoas passam a correr, o telefone não pára de tocar, os e-mails caem e o som que do meu computador sai ensurdece a minha sensibilidade que, tal como uma criança assustada, se enconsta ao canto da sala, mãos sobre a cabeça, corpo em posição fetal e (tal como eu) susurra «vai correr tudo bem. Está tudo bem...»
Tenho tanto e às vezes dou-lhe tão pouco valor... Que sonhar e querer ir mais longe é de Homem! Mas eu... eu sou só uma miuda... uma miuda que não cresceu... que continua a achar que amanhã será um lindo dia...
Às vezes o peso da minha pouca altura cai-me em cima e eu vejo que, coitadinha... não aguenta mais!... mas digo-te «tem que ser... mais um esforço... aguenta... e assim vais ver... crescrerás... é como comer a sopa toda...»
Digo isto num tom murmurado como quem se conveçe a si próprio porque é isso que quero fazer.
Mais um carro que passa veloz, um cão que ladra (tão rápido!) o meu relógio onde os segundos são milésimos e as horas anos...
A minha vontade de que o céu seja o limite e o meu eterno medo de nunca o atingir...
Tenho tanto e adoro tudo o que tenho.
Mas a mim... a mim eu não tenho e é isso que me faz ter esta imensa sensação de estar sozinha.
Pior não é quando não temos ninguem mas quando não nos temos a nós...
Para quem vive a acelerar quando tudo o que quer é que o Mundo passe devagar... para se poder saborear as coisas e para que as possa ver ao pormenor...
Passa tudo tão rápido... é tudo tão pouco durador quando está a ser o nosso desejo e depois... a rapidez com que aparecem as coisas que fazem voltar a mim a pequenina miuda agachada, a medo...
Não cresci... não evolui, não senti, não escondi, não me revoltei...
Continuo a ser a mesma miuda que tem medo do escuro do barulho e que chora de cada vez que um trovão bate no Universo... continuo a ser aquela miuda que corria para se esconder de nada que vinha atrás e que tremia por cada vez que achava que ia ficar sozinha...
Apesar de tudo correr bem...
Mas é dentro de mim, dentro de mim que as coisas estão presas... é dentro de mim que está o medo, é dentro de mim que está a incapacidade de crescer, é dentro de mim que falta o ar, é dentro de mim que não chove quando devia e chove quando tudo está bem...
Como a azáfama do dia a dia, como a rapidez com que tudo se modifica e fica na mesma (aquela rapidez molecular que nós nem vemos) como a menina que tenho dentro deste corpo que cresceu e ficou na mesma...
Sinto-me sozinha, sem mim... e apesar de me ver, presa por vontade própria, não me consigo libertar porque o som me ensurdece e a minha necessidade de fugir levam-me para cada vez mais longe de mim, da menina que devia salvar...
Pode ser que um destes dias eu compreenda que é de mim que devo deixar de fugir.

6 – Maio – 2008

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