pela revolta de não ter fúria em mim que é mais forte quem a tem...

Apercebemo-nos que nem tudo é doce...
A raiva contida, a maldade rasgada nas palavras, a vontade de magoar apenas para ser superior...
A necessidade de controlar, de ser mais forte...
Dominar pela força para se ter a certeza de que não se é enganado...
E como se está errado...
O erro de acreditar que a força domina quando o que está dentro de nós nem sequer forma tem.
O erro de acreditar que pela força se consegue acabar com a vontade própria...
Acredita que seria mais simples matares o físico do que o espírito que flutua dentro de mim e que se revolta em cada palavra ou acto de agressão...
Pensei mesmo que serias diferente mas encontro-te às vezes tão próximo daquilo de onde fugi...
Não julgo ninguem pelo que não me fizeram e esperava essa justiça dos outros.
É-me imensamente pesado assumir que tenho medo de ti...
E tenho a certeza que não é esse o teu objectivo mas a verdade, a vida, o caminho que deixei para trás, deixaram-me condicionada e, de cada vez que mostras ser mais forte do que eu eu apenas vejo um medo enorme de... deixar de poder ser eu, passar a ser algo inerte que apenas está porque existe...


Deixa-me ser eu, não me tentes enclausurar nem me mostres que és forte porque eu apenas deixarei de existir, controlada pelo medo...
Pergunto-me o que está para acontecer... se o que se viveu será ultrapassavel, se compreendes o que te digo, se eu conseguirei continuar a aceitar...
Pergunto-me o porquê de me fazeres sentir insuficiente e apesar de saber que são apenas as tuas próprias inseguranças é em mim que elas caem e doem...
É a mim que é perguntado «porquê?»
E é a mim que eu respondo que não sei, que é apenas uma fase, que irás compreender que sou apenas uma miuda que não cresceu, que se deixou desde sempre controlar apesar da fúria com que olha o Mundo.
Ela está cá... mas todas as raivas contidas, a maldade rasgada nas palavras e a pura vontade de magoar para ser superior acabaram por me esmagar e, tal como a um cãozinho ao qual ensinamos a dar patinha, continuo a dar patinha sempre com medo de ficar de castigo e apenas porque tenho a certeza de que muitas vezes a fúria com que deveria controlar o meu Mundo está tão adormecida quanto habituada a ser vergada.
É um sentimento estranho que irrompe dentro de mim quando essa necessidade de controlar, ser mais forte, é exercida em mim.
Encolho-me em mim, aceito tudo e deixo que de mim façam as coisas mais desumanas como perder a minha identidade.
Faço-o, tal como um cãozinho, para agradar, para ser amada e com isso agrido-me a mim própria com a força de uma vara e a dureza de um ferro em chamas.
E digo a mim própria «porquê?»
E é a mim que é respondido, pela revolta de não ter fúria em mim que é mais forte quem a tem...
Que eu poderia estar do outro lado, se eu fosse o pilar que em mim deveria ser...
Mas eu continuo a deixar-me dominar pela força que os outros medem em físico e amordaço o espírito que em mim deveria rasgar tudo e todos.
O espirito que tem a força de ser eu, de continuar a querer estar mesmo quando não se é nada...

2-outubro-2008

Sem comentários: