o que quero saber do Mundo...

Desculpa se me estou a enganar, dissimular.
Não sei o que ando a fazer mas sei que não tenho qualquer intenção de te magoar, nem de me magoar a mim.
Olho para ti e gosto do que vejo, não minto quando o digo.
Acho que o pânico é mais forte do que qualquer outra coisa e por isso não me consigo ver-te.

Umas vezes ataco-me e outras fingo que não existo.
Não sei o que hei-de fazer nem como hei-de me resolver, não consigo raciocinar e as coisas baloiçam e batem umas contra as outras a uma velocidade vertiginosa.
Como a queda...
Destabilizada, maravilhada, confundida, uma dualidade de não saber o que quero o que faço onde vou...
Queria ser balizada, direccionada, queria que por um momento me fosse dito o que devo fazer.
Queria que me mostrasses o que aconteceu, porque aconteceu e o que devo fazer para que as coisas sejam simples e descomplicadas.
Estou farta de decidir sozinha, de me fazer de forte e independente quando só corro para não ficar parada.
Não sei o que faço aqui nem me consigo disolver com o resto.
Não sou nem posso ser solução. Sou uma mistura heterógenea onde eu própria não me consigo distinguir.
Perco-me em tentativas de compreender os outros mas não me compreendo a mim própria.
Eu só queria que tudo fosse simples e que eu tivesse um texto para decorar.
Queria saber o que te dizer, queria saber o que queria fazer, queria conseguir decidir sem estar a tentar compreender até que ponto tenho razão.
Compliquei quando queria que fosse simples porque vi-te complicar e copiei-te.
E agora tenho medo que a tua complicação seja mais ou menos complicada do que a minha, diferente, e que a complicação que criaste da que criei não seja nada daquilo do que pensei ou que seja ainda pior ou que não haja explicação para ela nem solução.

Quando estou contigo não consigo pensar. Vejo e gosto mas, tenho um certo receio de me estar a enganar, de te enganar a ti, de achar que me estou a enganar ou de tu estares a enganar-me e acabarmos enganados.
Não quis que as coisas chegassem aqui.
Porque tiveste que complicar?
Porque me fizeste pensar sobre o assunto?
Porque não ficámos quietos, longe um do outro cruzando-nos apenas quando tivesse que ser e gostando da companhia um do outro?
Porque quisemos complicar?
Porque é que te faço pensar no assunto?
Quando não há nada a pensar ou a fazer...
Nada. Não sei o que se passa e as directrizes que espero que me dês não aparecem.
Será que estás tambem à espera dessas mesmas directrizes?
Será que nos andamos a enganar um ao outro, será que nos confundimos propositadamente sem dar conta?
Acho que te deveria explicar que estou destabilizada e que não foi com isto que sonhei para mim.
Sonhei... mas não sonho. Há tanto tempo e... porque será que resisto?
Não quero... o pânico é mais forte do que tudo o resto.
Não posso. Não posso. Não ia conseguir resistir. Preciso de fugir de me esconder e de estar longe quando o que quero (ou não sei se quero, se tenho medo, se apenas gostava de tentar ver se resistiria) é arriscar.
Se eu soubesse o texto escrito, se conseguissemos ler o pensamento... (tudo deixaria de ser surpreendente e eu poderia saber o que se passava dentro de ti e de mim)
Tenho pena de ser uma fraca.
Tenho pena de não saber o que quero nem saber lutar.
Tenho... tenho medo de me controlar, tenho medo de me descontrolar, tenho medo de não te compreender, de não me compreender de dar a entender algo que não é ou de não entender as coisas como elas são.
Tenho medo de continuar sozinha tenho medo de me misturar e de perder a minha autenticidade, tenho...
Não tenho.
Não tenho nada.

Há momentos em que me perco nos meus sonhos, que não existem, e até consigo imaginar coisas diferentes daquelas às que me habituei mas, honestamente, o pânico é muito maior e as imagens bruscas e dolorosamente reais voltam aos meus sonhos acordados e eu penso que não tenho direito nem é esse o meu caminho.
Não quero mais isto para mim.
Não sei o que quero para mim.
Quero ser direccionada, contextualizada, sentir-me una com o resto, contigo, com algo...
Não dou nem a ti nem a mim a hipótese de ser feliz e tenho um pânico horrendo por te estar a fazer o mesmo que me faço e de te ver a ti fazer o mesmo que fazemos a nós próprios.
Demasiado tempo, demasiado parecidos, demasiado pisados, encolhidos, controlados.
E eu tenho pena.
Se as coisas fluissem se eu não me controlasse não me perguntasse e se tu fizesses o mesmo seria mais simples.
Muito mais simples... e eu não me iria controlar, não me iria esconder ou fugir.
Podia erguer os olhos e olhar as coisas de frente, vê-las, querer vê-las como são e mostrar-te que do meu lado tambem há coisas e que mesmo apesar de não saber quais, que queria vê-las pelos teus olhos enquanto tu te verias pelos meus...
Conseguiriamos superar-nos e de cima ver o que somos, onde vamos.

Eu, que inicialmente quis ajudar-te a ver que as coisas não são assim tão negras, acabei por me perguntar porque me questionei...
E afinal eu, que somente queria mostrar-te as certezas que tenho, descobri que não tenho nenhumas e acabei a perguntar-te, sem falar sem dizer, o que quero saber do Mundo...

14 – Abril – 2008

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