um medo infantil...

Pensei que te podia deixar em qualquer lado e nunca pensei que não ficasses por lá...
Achei que depois de te deixar lá já não me lembraria de ti...
Acreditei, mesmo, que se te guardasse bem longe e à tua volta fosse criando tapumes, te deixasses ficar escondido... nunca pensei que continuasses a viver...

Foi-me mais facil ver-te e fingir que não o tinha feito do que não te ver, sentir-te na penumbra, sempre que alguem apaga as luzes...
Doi mais quando não te vejo porque é o que sinto que te faz estar perto...
Rodeei-me de gente, barulho, luzes, azáfama porque sabia que assim estaria protegida mas tudo o que quero é poder estar em silêncio sem te sentir no escuro.
Esse é o pior pânico... daquilo que não vemos mas sentimos... está lá... esteve por tanto tempo adormecido mas algo (ou talvez eu mesma) trouxe-o à luz, para a minha escuridão...
Às vezes, muito frequentemente ultimamente, tenho um medo terrivel de não te conseguir deixar...
Tenho um pânico de te agarrar e de me agarrar...
Não quero... não quero mesmo... viver assim... a achar que és tu...
Não preciso disto... sou tão melhor sem ti, sem ter medo de te perder... sem ter medo de ficar, mais uma vez, sozinha...
Sou sozinha, e é disso que me tento mentalizar diariamente, ao minuto... é uma constante luta, sem descanso, sem poder, por um minuto sequer apenas, deixar-me sonhar de que não estou sozinha...
Se há coisa que aprendi (contigo) e que quero continuar a aprender (sem ti), é que somos unos.
Eu sou única e nunca haverá ninguem que possa ser eu comigo... mas é aí que eu tenho um pavor infantil, inexplicavel, de que isso seja mentira e que afinal eu tenha ficado agarrada a ti.

Sei perfeitamente que a minha liberdade é meramente ilusória... sei perfeitamente que a criei para poder continuar a correr em frente e manter a minha imagem de 'mulher'... sei de tudo isto mas é tambem com isto que me tento convencer de que posso realizar esta ilusão.
Eu posso.
E eu que só quero, mesmo de olhos fechados, na penumbra ou escuridão, deixar-te escondido onde te guardei, perder a chave com que te fechei, e esquecer que algum dia por ali passei, às vezes tenho medo, um medo infantil, de nunca esquecer o que se passou e mesmo sabendo que não pertences ao meu mundo e daí já partiste não deixando nada para trás deixar, por detrás dos tapumes a ideia irreal de que me pertencerias...
Tu não sentes nada por mim.
Não podes nunca saber o que é sentir e eu sei perfeitamente bem disso.
Maldita a hora em que te associei sentimentos de um ser humano... maldita a hora em que acreditei que podias ser... humano... sinto-me uma perfeita idiota por algum dia ter acreditado em mim, por algum dia ter achado ser possível eu ser especial.
Não sou... não sou... não sou...
E tenho tanta pena, um medo infantil de parar de sonhar porque um dia mataste os meus sonhos... porque um dia deixei-me morrer às tuas mãos... tenho um tal pavor que me sinto solta da Terra por deixar sentir-me assim outra vez... tão pouco... importante...

e tudo porque para mim, ser importante, ser especial, passava por ser-te algo... como se algum dia tu pudesses sentir...

6 – Janeiro – 2008

1 comentário:

SuRi disse...

Vou ser mto sincera... tive que guardar este texto num documento do computador.. Não para o usar.. mas para o ler as vezes que precisar...e vou precisar muito..

"Doi mais quando não te vejo porque é o que sinto que te faz estar perto..." Esta dor? Presente!

"Às vezes, muito frequentemente ultimamente, tenho um medo terrivel de não te conseguir deixar..." Este medo? Presente!


"Não preciso disto... sou tão melhor sem ti, sem ter medo de te perder... sem ter medo de ficar, mais uma vez, sozinha...Sou sozinha, e é disso que me tento mentalizar diariamente, ao minuto..." Esta mentalização? Está em falta...

"Maldita a hora em que te associei sentimentos de um ser humano... " Amaldiçoamento? Presente!

"...um medo infantil de parar de sonhar porque um dia mataste os meus sonhos... (...) deixar sentir-me assim outra vez... tão pouco... importante..." Medos e sentir-me pouco importante? Presente!

"E tudo porque para mim, ser importante, ser especial, passava por ser-te algo... como se algum dia tu pudesses sentir..." Presente!

Parece que em vez de comentar, estou apenas a lamentar-me.. mas espero que não vejas os meus comentário dessa forma. Apenas o faço assim porque sinto tanto as tuas palavras...que sinto necessidade de analisar aquilo a que me sinto mais ligada...